quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sóis

Sóis
Só sei ser só
só assim
só eu em mim

Só sei ser sol
Sou em mim assim
ou não sou
Ou me solto
no espaço
Não me ponho
nem nasço

Ou que eu nasça
Essa vida
é mesmo atrevida:
sempre passa
e cansada
termina

Sinto muito,
não sinto nada

segunda-feira, 25 de outubro de 2010



Dia a dia,
de leve ela levanta
e o dia ela adia.
Do que adianta?

sábado, 23 de outubro de 2010

Ainda:
a ida
e a vinda.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Do que me faz falta,
mais me falta é poder respirar.
Mas que falta de ar,
mas que falta de calma
nessa alma espessa.
Mas que pressa é essa
de nunca chegar?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

infinitude

meu tempo sem fim nem começo

infinito vezes dois
vezes dez
vezes dezesseis -
o infinito é o mesmo

mesmo o meu tempo perdido
sem começo nem fim
nem futuro nem passado
passa o tempo esquecido:
infinito pra todo lado

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Eu sei de cor:
tu lápis-de-cor.

sábado, 2 de outubro de 2010

história breve

Era o amor
que veio com tudo
e não era nada, contudo.

Acabou-se
e não era doce.
E nem cedo era -
antes fosse.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

eis que cedo
o amor foi
esquecido

sem ter tido
o defeito
de ter feito
sentido

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Ainda ando onde a onda avança
Ainda danço onde o mar é samba
Ainda ando sem rumo
A remar, remar onde o mar é nada
A nadar, nadar e perder o remo
E perder o rumo
E morrer na praia

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

desapego

Amor
com amor
se paga

Amor
sem amor
se apaga

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Observação:

Observo o verso
enquanto ele me observa.
O verso me absorve,
e vice-versa.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Essa mulher no espelho,
não sei de onde ela veio.
Mas me olha assim, ao inverso,
com esse olhar de reflexo
- reflito enquanto me penteio.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Ainda procuro onde
a razão desse meu coração
se esconde

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O passado é algo louco
que construí no escuro

Construirei amanhã
alguma coisa mais sã
e chamarei de futuro

terça-feira, 20 de julho de 2010

Nem me lembro
quantas vezes eu amei.
Mais de uma vez,
mais de três?

Nem me lembro,
era Dezembro.
O amanhã é só um talvez.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Insônia

No céu, a lua. Na cama, eu.
O sono vem quando o sol surgir,
Depois que a Bela adormeceu.

Sonhos me fazem querer sorrir.
As minhas horas? o gato comeu.
Cadê o sono que estava aqui?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

De noite eu me acordo
de dia eu me recordo
(eu só discordo porque estou de acordo)

Se o tempo ficou disperso
o amor não estava disposto
e um romance já não é mais certo

Se tudo não cabe num verso
o amor é um caso ao inverso
e um romance não espera agosto

De dia você me acorda
de noite você me recorda
e se eu não tenho porto, não me importo

Mas deixo aberta a porta
pois não importa o resto:
o seu protesto não resiste ao gosto

Se o tempo ficou disperso
o amor não sentiu remorso
e um romance vou gravar no rosto

Se tudo não cabe num verso
o amor se perdeu no universo
e um romance vou guardar no bolso

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Telepatia

A distância não muda,
mas o tempo ainda passa.

Como será que você,
de tão longe,
me abraça?

domingo, 27 de junho de 2010

Vida, divina diva.
Vida, vadia vívida.
Dividida em duas, vendida.
Dádiva?
Dívida?
A vida é uma dúvida, deveras.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Viver perdida é meu vício,
eu me perco a cada instante
E tudo volta ao início:
nada é como era antes.

E quando fico distante,
pra encontrar meu ofício
Nada é como era antes:
e tudo volta ao início.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

De madrugada

Ao longe, o som da insônia.
A lua, luz e saudade.
E pela janela,
que é minha tela
Essa luz revela,
ao passar por ela
A cor da noite
Tingindo meu chão de escarlate.

Do quarto, o sono encobre.
A chama, luz e vontade.
E sua, queimando à vela
Eu nua, na passarela
Da cor da noite
Até que o sono me bate.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Vazio

Não tenho medo do mundo
O mundo não me destrói
Meu desejo é tão profundo
Que no coração me dói

Não tenho medo da vida
Viver é um ato eterno
Uma eterna despedida
Uma saída pro inferno

Meu medo é coisa pensada:
Do coração tiro o medo
E quase não sobra nada

Esse vazio me distrai
Um vazio que me dá medo
E do próprio medo sai

Além vida:

A vida às vezes furta
aquilo que a gente pensa.
Às vezes parece tão curta,
às vezes parece imensa.
Viver às vezes assusta,
viver às vezes compensa.

Viver também desaponta
se não houver recompensa
por viver, afinal de contas.
E lá estava ela esquecida
perdida no seu sono pleno
a menina que temia a vida
e achava o mundo pequeno.

A solidão lhe aquecia,
tão densa, lhe fazia bem.
E esse sentimento morno
que era o conforto de amar ninguém.

Com seu cabelo desfeito,
e seu destino guardado,
na calma escondida dentro
de seus pequenos olhos fechados,

ela não tinha saída:
a porta estava fechada.
Ela só tinha a vida:
ela tinha tudo e tudo era nada.

Seu mundo era impreciso,
o amor era impreciso,
sua vida era imprecisa
como as suas palavras.

E assim acordou, vazia,
e viu seu mundo em pedaços.
Não havia lugar pra ela naquele mundo,
não havia espaço.

E nesse mundo pequeno,
ela notou não caber.
Mas como pode o mundo
ser tão imenso e não lhe conter?

segunda-feira, 21 de junho de 2010

meu coração e as páginas:
não há nada que mereça essas palavras.
não há nada que mereça a tinta da caneta,
nem a minha caligrafia apressada.
não há nada que mereça de mim esse poema,
esse problema numa folha amassada.
as palavras não merecem ser lembradas.
não há nada que mereça o meu punho aflito.
não, não há nada que mereça ser escrito.